Monday, September 10, 2012

O Vencedor

Este pode ser tratado como o conto que iniciou a série. Foi um exercício de escrita, rápido, sem pretenção alguma, a não ser descrever uma cena simples e descontraída.

Será usado como exercício e teste dos programas escolhidos para a criação dos quadrinhos, tanto de roteirização quanto de desenho.

E com vocês, o conto:



O Vencedor


A cantina Juppers estava relativamente vazia quando Lothar entrou. Ele dirigiu-se para uma das mesas junto à vigia de aço transparente que cobria toda a parede, permitindo uma visão magnífica do espaço e das demais partes da estação.

À direita era possível ver a construção do novo módulo que, segundo especulava a mídia, seria um parque de diversões. Do outro lado, formando um semi-círculo, estavam as docas por onde pequenas naves de transporte transitavam em meio a outras naves maiores. A Space Ópera estava naquele local, estacionada, até que fosse necessário partir em alguma missão.

Lothar voltou-se ao sentir a aproximação de alguém. Olhou para cima e deparou-se com Kyle que puxou uma cadeira e sentou-se em silêncio. Utilizando-se do menu digital que aparecia no tampo da mesa, Lothar pediu um suco das famosas frutas azuis de Varula.

- Vai querer algo? - perguntou.

- O líquido negro do capitalismo.

- Conseguiu se livrar rápido dos repórteres dessa vez - observou Lothar, enquanto fazia o pedido.

- Bastou dar a entender que eu estava ficando mal humorado.

- O que não é difícil com a fama que você tem.

Kyle não respondeu. Olhou para a esquerda, para os monitores que, do outro lado da cantina, exibiam diversos canais, entre eles o canal de notícias da Deep Inside. Deparou consigo mesmo em meio a repórteres, algumas autoridades e fãs. Tudo aquilo havia acontecido há mais de duas horas, mas os canais de notícias se encarregariam de manter a todos informados sobre o acontecimento por alguns dias.

Parou de olhar o grande monitor quando o barman, um shuvai baixinho de pele cor de bronze e olhos redondos, apareceu para entregar o pedido. O barman colocou os copos sobre a mesa e então se afastou quando um homem de estatura mediana e cabelos negros chegou anunciando:

- Finalmente o encontrei! Kyle Bradriek, o vencedor da Regata Solar!!! Pela sétima vez consecutiva!! - Parou diante de Kyle e completou, num tom mais sério - E quando é que você vai me deixar ganhar?

Sem olhar para ele, Kyle tomou um gole do refrigerante e respondeu:

- Quando você tiver uma nave e tripulação decentes, Vince.

Depois olhou para o recém-chegado, que esboçou um sorriso para logo em seguida cair na gargalhada. Enquanto sentava, Vince exclamou:

- Você não perdoa mesmo, não é? Aliás, tem uma porção de repórteres na praça central esperando que você dê as caras por lá!

- Que fiquem esperando! - Kyle terminou de tomar o refrigerante. - Agora falando sério, Vince. Sua empresa tem todas as informações técnicas da Roller Coaster. Basta construir outra igual. Quanto à tripulação, Lothar pode dar um jeito nisso.

Apontando para Lothar, Vince perguntou:

- Ele arranjar uma tripulação pra mim? Não, obrigado, sei bem o que o pessoal da Space é capaz de fazer.

Lothar fingiu que iria dar um tapa violento na cabeça de Vince, enquanto soltava: - Não fale mal da minha tripulação, baixinho!

Depois de se esquivar da mão de Lothar, Vince prosseguiu com seriedade:

- O problema, Kyle, é que o quadro de diretores acha que construir uma segunda Roller Coaster, apenas para que o atual presidente da empresa ganhe uma regata, é jogar dinheiro fora. Eles não conhecem todos os significados da palavra marketing.

- Me inclua no quadro de diretores que eu resolvo isso - respondeu Kyle, com um sorriso divertido.

- Ora, vejam só! Você tem uma grande empresa, uma legião de fãs que o tratam como um deus, um lugar no Conselho dos Trinta, e agora ainda quer ser um dos diretores da minha empresa?!? E depois vai querer o que mais, a galáxia?

- É uma idéia tentadora. Mas já estou velho demais pra isso.

Lothar, que estivera de braços cruzados, levou a mão ao rosto, enquanto tentava se conter. Não conseguia parar de rir da discussão entre os dois amigos. Em todas as ocasiões em que ele estivera por perto, quando Kyle e Vince se encontravam, o resultado era sempre o mesmo, chegava a ficar com o rosto dolorido de tanto rir.

- Qual é a graça, hein, gordão? - perguntou Kyle, fingindo estar bravo. - Quando eu me tornar imperador você não vai mais rir desse jeito!

Lothar limitou-se a cantarolar os acordes de uma antiga música conhecida como Marcha Imperial, um dos temas de um famoso filme de ficção científica da Terra.

- Kyle, você acabou de dizer que estava velho demais pra isso! - exclamou Vince.

- Mudei de idéia - exclareceu Kyle, com um sorriso um tanto enigmático.

Vince iria falar mais alguma coisa, mas seu comunicador o interrompeu. Colocou o fone de ouvido e atendeu a ligação. Lothar já havia parado de rir, e terminava de tomar o suco. Depois de trocar algumas palavras com a pessoa do outro lado da linha, Vince desligou.

- Preciso ir. Existem clientes que não respeitam nem a própria mãe. - Levantou-se e, batendo no ombro de Kyle, despediu-se - Até depois, seu chato. Na próxima eu ganho de você. - E saiu da cantina.

Kyle pagou a conta, aproximando um pequeno cartão do tampo da mesa. Depois levantou-se. Lothar o seguiu, novamente cantarolando a música.

- Pare com isso - rosnou Kyle.

Lothar parou imediatamente. Provocar Kyle era a última coisa que ele pensava em fazer.

Fim

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