Será usado como exercício e teste dos programas escolhidos para a criação dos quadrinhos, tanto de roteirização quanto de desenho.
E com vocês, o conto:
O Vencedor
A cantina Juppers estava relativamente vazia quando Lothar
entrou. Ele dirigiu-se para uma das mesas junto à vigia de aço transparente que
cobria toda a parede, permitindo uma visão magnífica do espaço e das demais
partes da estação.
À direita era possível ver a construção do novo módulo que,
segundo especulava a mídia, seria um parque de diversões. Do outro lado,
formando um semi-círculo, estavam as docas por onde pequenas naves de
transporte transitavam em meio a outras naves maiores. A Space Ópera estava
naquele local, estacionada, até que fosse necessário partir em alguma missão.
Lothar voltou-se ao sentir a aproximação de alguém. Olhou
para cima e deparou-se com Kyle que puxou uma cadeira e sentou-se em silêncio.
Utilizando-se do menu digital que aparecia no tampo da mesa, Lothar pediu um
suco das famosas frutas azuis de Varula.
- Vai querer algo? - perguntou.
- O líquido negro do capitalismo.
- Conseguiu se livrar rápido dos repórteres dessa vez -
observou Lothar, enquanto fazia o pedido.
- Bastou dar a entender que eu estava ficando mal humorado.
- O que não é difícil com a fama que você tem.
Kyle não respondeu. Olhou para a esquerda, para os monitores
que, do outro lado da cantina, exibiam diversos canais, entre eles o canal de
notícias da Deep Inside. Deparou consigo mesmo em meio a repórteres, algumas
autoridades e fãs. Tudo aquilo havia acontecido há mais de duas horas, mas os
canais de notícias se encarregariam de manter a todos informados sobre o
acontecimento por alguns dias.
Parou de olhar o grande monitor quando o barman, um shuvai
baixinho de pele cor de bronze e olhos redondos, apareceu para entregar o
pedido. O barman colocou os copos sobre a mesa e então se afastou quando um
homem de estatura mediana e cabelos negros chegou anunciando:
- Finalmente o encontrei! Kyle Bradriek, o vencedor da
Regata Solar!!! Pela sétima vez consecutiva!! - Parou diante de Kyle e
completou, num tom mais sério - E quando é que você vai me deixar ganhar?
Sem olhar para ele, Kyle tomou um gole do refrigerante e
respondeu:
- Quando você tiver uma nave e tripulação decentes, Vince.
Depois olhou para o recém-chegado, que esboçou um sorriso
para logo em seguida cair na gargalhada. Enquanto sentava, Vince exclamou:
- Você não perdoa mesmo, não é? Aliás, tem uma porção de
repórteres na praça central esperando que você dê as caras por lá!
- Que fiquem esperando! - Kyle terminou de tomar o
refrigerante. - Agora falando sério, Vince. Sua empresa tem todas as
informações técnicas da Roller Coaster. Basta construir outra igual. Quanto à
tripulação, Lothar pode dar um jeito nisso.
Apontando para Lothar, Vince perguntou:
- Ele arranjar uma tripulação pra mim? Não, obrigado, sei
bem o que o pessoal da Space é capaz de fazer.
Lothar fingiu que iria dar um tapa violento na cabeça de
Vince, enquanto soltava: - Não fale mal da minha tripulação, baixinho!
Depois de se esquivar da mão de Lothar, Vince prosseguiu com
seriedade:
- O problema, Kyle, é que o quadro de diretores acha que
construir uma segunda Roller Coaster, apenas para que o atual presidente da
empresa ganhe uma regata, é jogar dinheiro fora. Eles não conhecem todos os
significados da palavra marketing.
- Me inclua no quadro de diretores que eu resolvo isso -
respondeu Kyle, com um sorriso divertido.
- Ora, vejam só! Você tem uma grande empresa, uma legião de
fãs que o tratam como um deus, um lugar no Conselho dos Trinta, e agora ainda
quer ser um dos diretores da minha empresa?!? E depois vai querer o que mais, a
galáxia?
- É uma idéia tentadora. Mas já estou velho demais pra isso.
Lothar, que estivera de braços cruzados, levou a mão ao
rosto, enquanto tentava se conter. Não conseguia parar de rir da discussão
entre os dois amigos. Em todas as ocasiões em que ele estivera por perto,
quando Kyle e Vince se encontravam, o resultado era sempre o mesmo, chegava a
ficar com o rosto dolorido de tanto rir.
- Qual é a graça, hein, gordão? - perguntou Kyle, fingindo
estar bravo. - Quando eu me tornar imperador você não vai mais rir desse jeito!
Lothar limitou-se a cantarolar os acordes de uma antiga
música conhecida como Marcha Imperial, um dos temas de um famoso filme de
ficção científica da Terra.
- Kyle, você acabou de dizer que estava velho demais pra
isso! - exclamou Vince.
- Mudei de idéia - exclareceu Kyle, com um sorriso um tanto
enigmático.
Vince iria falar mais alguma coisa, mas seu comunicador o
interrompeu. Colocou o fone de ouvido e atendeu a ligação. Lothar já havia
parado de rir, e terminava de tomar o suco. Depois de trocar algumas palavras
com a pessoa do outro lado da linha, Vince desligou.
- Preciso ir. Existem clientes que não respeitam nem a
própria mãe. - Levantou-se e, batendo no ombro de Kyle, despediu-se - Até
depois, seu chato. Na próxima eu ganho de você. - E saiu da cantina.
Kyle pagou a conta, aproximando um pequeno cartão do tampo
da mesa. Depois levantou-se. Lothar o seguiu, novamente cantarolando a música.
- Pare com isso - rosnou Kyle.
Lothar parou imediatamente. Provocar Kyle era a última coisa
que ele pensava em fazer.
Fim
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